Vamos ver o que realmente importa?

Em 1971, o consagrado cientista social Herbert Simon registou: “O que a informação consome é bastante óbvio: consome a atenção dos seus destinatários. Consequentemente, uma abundância de informação gera uma pobreza de atenção”.

No meio desta constante vaga de informação, a atenção tornou-se o nosso ativo mais valioso. Num mundo cheio de distrações, a atenção é a nossa principal vantagem competitiva. Como tal, devemos olhar para cada dia como um desafio e uma oportunidade: para nos mantermos focados naquilo que é verdadeiramente importante.

E estar focado naquilo que é verdadeiramente importante é ter a legítima ambição de criar algo de valor. Como tal é imperioso traçar uma linha entre as constantes e muitas vezes infundadas solicitações do mundo e as suas próprias ambições.

Tudo muda quando nos permitimos a nós mesmos ser mais seletivos naquilo que escolhemos. De imediato torna-se nítida a chave para abrir a porta que nos levará ao próximo nível de realização na nossa vida, seja de carácter pessoal ou profissional. Há uma crua liberdade em saber que podemos eliminar o que não é essencial, que já não somos controlados pelos objetivos dos outros e que agora somos nós que escolhemos. E esta é a pura das verdades: se não criarmos prioridades nas nossas vidas, alguém o fará por nós. Com esse poder, por muitos visto como inalcançável, por outros como um poder invencível, podemos descobrir o nosso ponto mais alto de contributo, não apenas para a nossa carreira ou vida, mas também para o mundo.

E chega a altura, como em qualquer texto, em que surgem os “E se…”. Momento castrador da fluidez da leitura e desmotivador do nómada mental que existe em cada um de nós.

Permita-me o caro leitor que faça uma abordagem ligeiramente diferente no que concerne aos “E ses…”

E se… as empresas eliminassem as reuniões sem sentido e as substituíssem por espaço para as pessoas pensarem e trabalharem nos seus projetos mais importantes? E se os colaboradores recusassem os emails que só fazem perder tempo, os projetos sem sentido e as reuniões improdutivas, para que pudessem ser usados ao seu mais alto nível de contributo para as suas empresas e carreiras?

Como John Cleese, dos saudosos Monty Python refere: “Se queremos pessoas criativas nas empresas, temos de lhes dar tempo e espaço para brincarem”.

E se… a sociedade deixasse de nos dizer para comprar mais coisas? E se nos permitisse criar mais espaço para respirar e pensar? E se nos incentivasse a rejeitar a fazer coisas que detestamos, comprar coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para agradar a pessoas de quem não gostamos?

E se… deixássemos de glorificar estar ocupados como medida de importância? Peter Drucker explica muito bem com a sua célebre frase: “Nada é tão ineficiente como fazer muito bem feito aquilo que nunca deveria ser feito”. E se, ao invés, fosse dado valor ao tempo que passamos a escutar, a ponderar, a meditar, a aproveitar o tempo que passamos com as pessoas mais importantes da nossa vida?

E se o mundo inteiro mudasse da procura indisciplinada do mais e do descartável para a procura disciplinada do menos… só que melhor?

Mas é necessária força de vontade e coragem para desligar do mundo, nem que seja por uma hora. É desconfortável e por vezes as pessoas ficam aborrecidas. Mas é melhor dececionar algumas pessoas com pequenas coisas, do que abrir mão dos nossos objetivos por uma caixa de email vazia. Caso contrário, estaremos a sacrificar o nosso potencial por uma ilusória ideia de profissionalismo.

Como “desligar” do mundo?

Começar pelo ritmo dos níveis de energia

Alguns momentos do dia são particularmente favoráveis à criatividade e produtividade, graças aos ritmos circadianos de excitação e agilidade mental. Avalie quando parece ter mais energia durante o dia e dedique esses períodos valiosos ao seu trabalho criativo mais importante. Se puder evitar, não marque reuniões durante esse período. E não desperdice esse período de elevado estímulo intelectual com atividades administrativas.

 Use estímulos criativos

Use as mesmas ferramentas, a mesma envolvente e até a mesma música de fundo, de modo que estas possam tornar-se estímulos associativos para entrar na sua zona criativa.

 

Saiba gerir o aumento da lista de tarefas

Limite a lista de tarefas diárias. Um post-it é perfeito para isso. Se não conseguirmos encaixar tudo numa lista desse tamanho, como vamos conseguir fazer num dia? Se estivermos sempre a acrescentar tarefas a essa lista, ao longo do dia, nunca iremos terminar e a motivação cairá a pique. A maior parte das coisas pode esperar até ao dia seguinte. Por isso… deixe-as.

 

Estabelecer limites no dia

Definir um tempo de início e de conclusão do dia de trabalho. Válido mesmo para quem trabalha sozinho. Dedique diferentes momentos do dia a atividades distintas: trabalho criativo, reuniões, correspondência, trabalho administrativo e assim por diante. Estas paredes estanques impedem que as tarefas demorem mais tempo do que o necessário e prejudiquem o seu restante trabalho importante. Isto também o ajuda a não ser viciado no trabalho, o que é mito menos produtivo do que parece.

Dar vida a projetos incrivelmente criativos exige muito trabalho duro nas trincheiras da execução diária de ideias. A genialidade é mesmo “1% de inspiração e 99% de transpiração”.

Mas não podemos esquecer-nos do reverso da medalha dos 99%. É impossível resolver todos os problemas simplesmente com força de vontade. Temos também de arranjar tempo para brincar, descontrair e explorar os ingredientes essenciais da reflexão criativa, que nos ajudam a desenvolver ideias existentes e a arrancar com novos projetos.

Vamos ver o que realmente importa?